Entorse com rompimento ligamentar

Primeiro o tombo. Bobagem, quantas vezes a gente cai de bobeira. Dor e um estalo. Gelo. Gelei no segundo dia: inchou. Pronto-socorro e Robofoot, mas nada quebrado. E inchaço que não passa. Quando vou voltar a fazer aula mesmo? Tenho ensaio e um espetáculo. Dois. Aliás, três. Na primeira consulta com um especialista, o resultado: ligamento rompido. O pé está instável, tudo solto. Faz exame, pega exame: 3 ligamentos rompidos e uma certeza: só cirurgia pra resolver. Hipoteticamente poderia tentar sem, mas com um estiramento prévio e muita frouxidão ligamentar, correria o risco de novo rompimento.
Aceitei. Começou a corrida contra o tempo. Corre com convênio, muitos exames, reza pra sair a tempo de viajar, ensaiar, dançar.
Convênio demora. Mudam a data. Cancela viagem. Robofoot já faz parte do look do dia. Mais exames. Muita paciência. Sem saber lidar, fazendo conta com o que não se contam: as incertezas todas.
Espera, prepara. Ansiedade e histeria não fazem o pé desinchar.
Sei tudo sobre o pé do Neymar. Falo com amigos, família. Pai médico e bom de reza me acalma. Evito conversas e quase choro nos ensaios que assisto. Aceito que preciso parar. 
Então chega o dia. Tenho medo e não sei fugir num pé só. Vamos logo resolver isso, doutor? Bem-vinda ao centro cirúrgico, bailarina.
Entrego meu pé nas mãos de pessoas que sabem mais que eu. Mas não as conheço. Acordo sorrindo, eles dizem.
Não dói muito. Sensação de segurança. É muito difícil fazer xixi depois de uma raqui. Nunca tinha operado nada. Enfermeira da noite faz terrorismo: resolve logo isso aí ou vamos colocar uma sonda.
Fiz força de parto normal. Para. Um. Xixi.
Consigo. Toma essa, dona enfermeira.
Médico é pontual e está animado: fiz uma incisão pequena. Mexe assim. Não mexe assado. Gelo e Robofoot. 10 dias sem encostar o pé no chão. Dores controláveis. Emoções estranhas. Visita e colo da professora-amiga. Marido me carregando no colo e rindo (me ama de fato - lembrando que há dois lances de escada em casa).
Mãe não sabe até agora se foi pé ou perna. Filha desenha muleta para suas bonecas. Tenho fé, paciência e amor por perto. Não pode ser ruim. Mas é meu pé de bailarina em uma alma que só quer dançar.
A vida passa pela janela, as crianças estão em férias e é só o tempo correndo de um jeito que não posso controlar.
Reabilitar será minha rotina em alguns dias. Estou pronta. Quem nunca precisou se reinventar mesmo?






PS: Procurei informação sobre ligamentos rompidos em bailarinos e não achei muita coisa. Por isso decidi voltar a escrever. Pode ser que a experiência ajude. Se quiserem mais informações, é só deixar comentários. Ah, e a foto é do meu pé 9 dias após a cirurgia para reconstrução dos ligamentos, sem poder encostar no chão. Vou falar sobre as técnicas utilizadas depois. Compartilhem à vontade, só lembrem de dar os créditos. Beijo, beijo.

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