Crítica - Quebra-Nozes
Helena Katz, para O Estado de S. Paulo
Foram quatro Quebra-Nozes ao mesmo tempo, dois de São Paulo e dois do Rio de Janeiro. A separação regional carrega uma outra, sobre a qual vale a pena refletir. As duas montagens vindas do RJ vão em uma mesma direção, que provavelmente tem a ver com o papel do Theatro Municipal local como mantenedor da tradição do balé clássico por lá. E as duas produções paulistanas, que não vieram de um ambiente marcado por este vínculo, se distinguem por uma maior autonomia em relação ao compromisso de montar um Quebra-Nozes o mais próximo possível das grandes companhias internacionais.
A produção que o Theatro Municipal do Rio trouxe, assinada por Dalal Achcar, infelizmente, apresentou-se no Teatro Abril, com o público entrando e saindo durante a primeira meia hora do espetáculo. Embora seja uma megaprodução, padece do pior que pode acometer um projeto da sua natureza: é correto e opaco. Todos os ingredientes lá estão, mas a sua junção não resulta no que deveria. Até mesmo o casal trazido de Londres, Roberta Marques (do Royal Ballet) e Arionel Vargas (do English National Ballet), manteve a ausência de brilho que envolveu tudo, do prólogo ao final do segundo ato. Uma pena que a companhia brasileira historicamente ligada aos balés de repertório não tenha conseguido sair da temperatura morna.
Garra e comprometimento não faltam à Cia. Brasileira de Ballet, dirigida por Jorge Teixeira. Formada por jovens e talentosos alunos do Conservatório Brasileiro de Dança, deixa muito claro um fenômeno que merece toda a atenção: o "efeito festival". Os festivais competitivos que mobilizam centenas de escolas de dança por todo o País há cerca de 30 anos, são o reduto de um uso da técnica do balé clássico para a realização de "fogos de artifício" - jargão que identifica aquele tipo de coreografia feita com os passos mais difíceis, mais espetacularizados, mais capazes de arrancar aplausos da plateia.
Jorge e seus alunos são os grandes vencedores desses festivais, fato do qual muito se orgulham e destacam na capa do programa que distribuem. Todavia, uma coisa não afiança a outra, pois são dois mundos muito distintos. De um lado, ficam os festivais e suas coreografias de 5, 10 minutos, criadas como vitrines de exibição de virtuosismos técnicos impactantes. E em outro estão os grandes clássicos, que pedem um outro uso da mesma técnica, que pedem uma concepção dramatúrgica específica, que é o que os transforma em obras de arte.
Foi justamente a falta de polimento na dramaturgia que anulou o brilho no Quebra-Nozes do Theatro Municipal do RJ. Já a produção de Jorge Teixeira, como que ignora o fato de ser feita por bailarinos muito jovens, de 13, 14 anos, e expõe um entendimento precário sobre teatralidade. No que mostrou, existe ainda um outro problema, muito mais preocupante, que se localiza na formação. Há algo de equivocado no trabalho de pés e na dosagem da energia, que ameaça a longevidade da construção técnica que está sendo realizada.
Nessa montagem, os primeiros papéis são dos primeiros-bailarinos no Royal Ballet, de Londres, Thiago Soares e Marianela Nuñes, que exalam uma técnica apurada e uma grande sintonia entre eles. Marianela "latiniza" a sua interpretação, agregando ênfases aos seus acabamentos. Produz uns micro arabescos que dão mais peso "carnal" ao que faz, e talvez seja justamente isso que a destaque na companhia onde é primeira-bailarina. Afinal, sabemos que o olhar estrangeiro sobre nós, latino-americanos, busca aqui o "típico". Thiago, figura imponente em cena, não passou do desempenho correto. Faltou aquele carisma e aquele cuidado nos detalhes que se espera de uma estrela da sua posição.
Tais fragilidades não existem na produção do Cisne Negro porque ela não almeja ser mais uma entre tantas que tentam fazer o modelo habitual de encenação. Ao longo dos 26 anos em que realiza este balé, foi aprendendo a fazer o seu Quebra-Nozes, e hoje, prima pela sabedoria de não pretender reproduzir o que é irreproduzível por uma companhia do seu porte. O zelo com cada um dos seus muitos detalhes, a dramaturgia ajustada para uma coreografia que mostra o melhor de cada participante - é tudo isso reunido que produz a mágica que se espera deste conto de Natal. À Dany Bittencourt, diretora de ensaios, e Patricia Alquezar, sua assistente, deve ser creditada a justeza deste O Quebra-Nozes. A elegância da produção ecoou nas linhas impecáveis de Marcelo Gomes, um partner como poucos, com o brilho que distingue os grandes artistas da dança, que foi acompanhado por Hee Seo, precisa nas suas linhas perfeitas.
O que se percebe nestas três maneiras de apresentar a mesma obra são diferentes formas de lidar com a situação colonizador-colono-colonizado. A resposta dada pelo Cisne Negro à demanda de fazer o Quebra-Nozes em dezembro acabou inventando um jeito próprio de realizá-lo. E a ela se contrapõe uma outra visão, que funciona como o outro lado desta balança. É o excelente Brincadeiras Natalinas, que o Ballet Stagium acaba de estrear no Teatro Sérgio Cardoso. No seu exercício de antropofagia, nos faz ver um outro caminho para a mesma questão. É a expressão mais plena de uma ação de uma inteligente mestiçagem que deu muito certo.
A produção que o Theatro Municipal do Rio trouxe, assinada por Dalal Achcar, infelizmente, apresentou-se no Teatro Abril, com o público entrando e saindo durante a primeira meia hora do espetáculo. Embora seja uma megaprodução, padece do pior que pode acometer um projeto da sua natureza: é correto e opaco. Todos os ingredientes lá estão, mas a sua junção não resulta no que deveria. Até mesmo o casal trazido de Londres, Roberta Marques (do Royal Ballet) e Arionel Vargas (do English National Ballet), manteve a ausência de brilho que envolveu tudo, do prólogo ao final do segundo ato. Uma pena que a companhia brasileira historicamente ligada aos balés de repertório não tenha conseguido sair da temperatura morna.
Garra e comprometimento não faltam à Cia. Brasileira de Ballet, dirigida por Jorge Teixeira. Formada por jovens e talentosos alunos do Conservatório Brasileiro de Dança, deixa muito claro um fenômeno que merece toda a atenção: o "efeito festival". Os festivais competitivos que mobilizam centenas de escolas de dança por todo o País há cerca de 30 anos, são o reduto de um uso da técnica do balé clássico para a realização de "fogos de artifício" - jargão que identifica aquele tipo de coreografia feita com os passos mais difíceis, mais espetacularizados, mais capazes de arrancar aplausos da plateia.
Jorge e seus alunos são os grandes vencedores desses festivais, fato do qual muito se orgulham e destacam na capa do programa que distribuem. Todavia, uma coisa não afiança a outra, pois são dois mundos muito distintos. De um lado, ficam os festivais e suas coreografias de 5, 10 minutos, criadas como vitrines de exibição de virtuosismos técnicos impactantes. E em outro estão os grandes clássicos, que pedem um outro uso da mesma técnica, que pedem uma concepção dramatúrgica específica, que é o que os transforma em obras de arte.
Foi justamente a falta de polimento na dramaturgia que anulou o brilho no Quebra-Nozes do Theatro Municipal do RJ. Já a produção de Jorge Teixeira, como que ignora o fato de ser feita por bailarinos muito jovens, de 13, 14 anos, e expõe um entendimento precário sobre teatralidade. No que mostrou, existe ainda um outro problema, muito mais preocupante, que se localiza na formação. Há algo de equivocado no trabalho de pés e na dosagem da energia, que ameaça a longevidade da construção técnica que está sendo realizada.
Nessa montagem, os primeiros papéis são dos primeiros-bailarinos no Royal Ballet, de Londres, Thiago Soares e Marianela Nuñes, que exalam uma técnica apurada e uma grande sintonia entre eles. Marianela "latiniza" a sua interpretação, agregando ênfases aos seus acabamentos. Produz uns micro arabescos que dão mais peso "carnal" ao que faz, e talvez seja justamente isso que a destaque na companhia onde é primeira-bailarina. Afinal, sabemos que o olhar estrangeiro sobre nós, latino-americanos, busca aqui o "típico". Thiago, figura imponente em cena, não passou do desempenho correto. Faltou aquele carisma e aquele cuidado nos detalhes que se espera de uma estrela da sua posição.
Tais fragilidades não existem na produção do Cisne Negro porque ela não almeja ser mais uma entre tantas que tentam fazer o modelo habitual de encenação. Ao longo dos 26 anos em que realiza este balé, foi aprendendo a fazer o seu Quebra-Nozes, e hoje, prima pela sabedoria de não pretender reproduzir o que é irreproduzível por uma companhia do seu porte. O zelo com cada um dos seus muitos detalhes, a dramaturgia ajustada para uma coreografia que mostra o melhor de cada participante - é tudo isso reunido que produz a mágica que se espera deste conto de Natal. À Dany Bittencourt, diretora de ensaios, e Patricia Alquezar, sua assistente, deve ser creditada a justeza deste O Quebra-Nozes. A elegância da produção ecoou nas linhas impecáveis de Marcelo Gomes, um partner como poucos, com o brilho que distingue os grandes artistas da dança, que foi acompanhado por Hee Seo, precisa nas suas linhas perfeitas.
O que se percebe nestas três maneiras de apresentar a mesma obra são diferentes formas de lidar com a situação colonizador-colono-colonizado. A resposta dada pelo Cisne Negro à demanda de fazer o Quebra-Nozes em dezembro acabou inventando um jeito próprio de realizá-lo. E a ela se contrapõe uma outra visão, que funciona como o outro lado desta balança. É o excelente Brincadeiras Natalinas, que o Ballet Stagium acaba de estrear no Teatro Sérgio Cardoso. No seu exercício de antropofagia, nos faz ver um outro caminho para a mesma questão. É a expressão mais plena de uma ação de uma inteligente mestiçagem que deu muito certo.
Comentários
Algum bailarino consegue dançar Tchaikovski sem enfatizar os acabamentos? Como? Onde? Quem?
E Marianela é reconhecidamente a mais inglesa das bailarinas não inglesas do Royal Ballet.
O que significa micro arabescos? A terminologia do ballet reconhece "arabesques". Essa terminologia, felizmente, jamais foi e jamais será traduzida. Por isso mesmo, bailarinos se entendem no mundo inteiro.
Mas, como ela nunca foi bailarina e sua especialidade, evidentemente, não é ballet, talvez ela não saiba disso.
Parabéns pelo seu blog. É muito bonito ver o interesse de jovens pelo ballet, uma arte universal, perene e profundamente bela.
Um abraço.
Eliana Caminada
Site pessoal: www.elianacaminada.net
Beijão, Ana! Comento pouco, mas sempre leio. O blog tá lindo!
Aliás adoro suas "Considerações sobre o ensino do ballet clássico".
Bom, eu reproduzi o texto que saiu no Estadão e não saberia dizer muito sobre as montagens de Quebra-Nozes, pois apenas assisti à do Cisne Negro, que foi bem bonita.
Mas acho muito bom ter o espaço para todo mundo poder opinar. E fico agradecida se puderem me mandar sempre suas ideias. Assim a gente vai trocando, trocando, trocando...
Obrigada, Eliana e Thaís (fofaaaa). Muita dança para a gente em 2010.
Parabéns!
Acompanho Eliana Caminada em seu comentário,pois sei de sua imparcialidade e conhecimento,coisa
que a sra.Katz desconhece.
Sempre acho que pessoas leigas quando
emitem suas "teorias" se tornam muito
perigosas,caso não haja um protesto
que esclareça os leitores.
Nesta matéria em particular a sra.Katz provou sua falta de intimidade e conhecimento em relação a Dança,cometendo inumeros
equívocos e dando a péssima impressão de "bairrismo e intrigas"
que são coisas que não combinam com
Arte.
Meus cuprimentos ao blog em nome da
Dança!
Cristina Martinelli
Na verdade, não entendo essa "rivalidade" entre a dança clássica e dança contemporânea. Não entendo esse desprezo por montagens de repertório. É como se os cientistas resolvessem atacar e desprezar Newton porque Einstein "desenvolveu algo melhor".
Prazer em ler Eliana Caminada :-)
Aliás, belo blog este.
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Beijo grande a todos. Muita dança em 2010!
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